Dia do Pai
É algo ímpar a velocidade com que as coisas mudam. Afinal de contas, o mundo não pára, a nossa personalidade molda-se, a nossa forma de estar altera-se de acordo com o que aprendemos, sofremos ou passamos.
Hoje foi o Dia do Pai. O teu dia.
Já foste muita coisa. Foste herói aos meus olhos de criança, vilão perante o meu olhar de adolescente e hoje és alguém. Somente.
És meu pai, não há como o negar. Possuo demasiados traços de personalidade teus, mesmo que o quisesse negar. O problema é que as tuas poucas virtudes não fazem pender a balança perante a gravidade de alguns defeitos.
Hoje dei por mim a ligar-te, como faço todos os anos. Não te vou mentir. A cada ano que passa, torna-se cada vez mais uma obrigação do que um verdadeiro desejo. Não me entendas mal. Não é que te deseje mal mas não temos nada a dizer. Não há nada que nos ligue.
Somos dois adultos que roçam o desconhecido. Tu já não sabes quem eu sou e eu já não tenho qualquer interesse em saber verdadeiramente em quem tu te tornaste. É triste, eu sei. Ambos olhamos um para o outro e vemos aquilo que fomos no passado. Eu, o filho que um dia desafiou o teu autoritarismo e que pagou o preço com treze anos de silêncio. Tu, o pai que...bem, que nunca soube bem o que essa palavra significava.
No entanto, sei que aprendeste a lição. A vida deu-te uma segunda oportunidade para corrigires alguns erros. Vejo isso na forma como ela te adora, te idolatra, o brilho nos olhos dela quando fala de ti. E ela já não é uma criança. É uma adulta, pensa por ela mesma, sabe o que quer.
Perdeste um filho muitos anos atrás. Não cometas o mesmo erro uma segunda vez.
Hoje desejei-te um feliz Dia do Pai. Porque o és. Mas não de coração.